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A GLOBALIZAÇÃO REMONTA À ERA VIKING

O livro “O ano 1000: quando os exploradores conectaram o mundo — e a globalização começou” de Valerie Hansen.

Os vikings descobrem a América — Fonte da Imagem: Getty Images

No Japão, as pessoas pensavam que o mundo terminaria em 1052. Nas décadas que antecederam o dia do julgamento, Kyoto foi atingida por uma série de epidemias. Parecia que o fim realmente estava próximo. É claro que eles estavam errados, mas dificilmente eram as únicas pessoas a prever o fim da humanidade em uma data específica. Para muitos cristãos do Século X, o ano da destruição era 1000 d.C. Valerie Hansen se concentrou neste ano não apocalíptico, mas importante, que significou o começo do que consideraríamos globalização. Obviamente, com a perspectiva europeia, com a qual está familiarizada, assim como os eventos importantes do Século XI, a exemplo da conquista normanda e a primeira cruzada. Mas, em seu livro, nos levou ao que estava acontecendo nas Américas e na Ásia também. Hansen trouxe diferentes ângulos para o seu tema: olhando as viagens dos vikings, as rotas comerciais no sudeste da Ásia, as viagens dos polinésios no Pacífico (e o medo dos japoneses em razão do fim dos tempos). Isso significa que, diferentemente de John Wills, em 1688, ela não se concentra exclusivamente nos eventos de um único ano. Em vez disso, 1000 é um ponto de apoio em torno do qual o seu texto se move, enquanto ela alcança os séculos anteriores e posteriores, descrevendo como o mundo mudava naquele momento.

Ela afirma que o nosso mundo interconectado remonta muito mais longe do que pensamos, sugerindo que foi em 1000 que os exploradores nórdicos 'fecharam o ciclo global' com suas viagens à América do Norte. Talvez isso seja um pouco exagerado: não havia uma cadeia contínua de comunicação nessa rota. No entanto, o conhecimento de quão longe os nórdicos foram (provado pela arqueológica descoberta da década de 1960) nos lembra quanta exploração mundial ocorria antes de Colombo e Henrique, o Navegador. Hansen discutiu de maneira bastante persuasiva sobre o papel dos nórdicos na criação de novas formas de comércio e na exploração de diferentes partes do mundo. Há até uma sugestão de que alguns vikings possam ter chegado, por acidente ou sob força, a territórios Maias na península de Yucatán. A indicação arqueológica está na forma de obras de arte que retratam loiros cativos. Isso é mais sugestivo do que definitivo, mas é intrigante. Enquanto isso, uma das maiores trocas internacionais ocorridas em 1000 foi o tráfico de escravos, levando pessoas da África subsaariana para o norte da África e o Oriente Médio. Os textos em árabe relatam as origens geográficas dos escravizados e como eles eram comercializados por mar e por terra para atender a uma demanda aparentemente interminável. O povo escravizado era uma mercadoria: regiões sem recursos naturais simplesmente exportavam pessoas. E era nessas rotas de escravos que outros bens chegavam também. A religião também foi uma exportação — e um fator-chave no comércio. Os líderes gostavam de se aliar a co-religiosos. Segundo Hansen, 1000 foi um ponto de realinhamento nessa frente, pois os governantes regionais decidiram escolher uma religião para seus seguidores com base no realpolitik. Novos grupos adotaram o cristianismo e o islamismo, mas também às vezes o judaísmo. As rotas e alianças comerciais foram formadas (ou não) com base na religião daqueles que estavam no controle — e a escolha feita pelos governantes naquela época lançaria uma longa sombra sobre os alinhamentos políticos modernos. Um ponto importante é que a maioria dos encontros desse período (diferentemente dos de 1492 e posteriores) ocorreu entre iguais tecnológicos. Embora grupos em diferentes partes do mundo tenham desenvolvido tecnologias distintas, ainda não havia um desequilíbrio tão grande nas possibilidades quanto nos próximos séculos. Hansen é especialista em história chinesa, portanto, não é de se surpreender que seu capítulo final descreva a China como a parte mais globalizada do mundo. Através de sua participação precoce no comércio ao longo da Rota da Seda e conexões com o sudeste da Ásia, a China oferecia exemplos do que consideramos sistemas econômicos modernos — em termos de especialização da produção e comércio regional. Hansen sugere que a razão pela qual a China não se industrializou, apesar de sua sofisticação, era simplesmente uma questão trabalhista. Os chineses nunca precisaram se mecanizar porque nunca faltava mão de obra. Muito do que é descrito só foi completamente compreendido nas últimas décadas, à medida que a ciência avançou para auxiliar a arqueologia. O mapeamento por satélite do terreno e o teste de DNA dos restos permitiram que as narrativas fossem vinculadas de maneiras que os estudiosos só podiam supor no passado. É fascinante saber que os nórdicos chegaram à Madeira antes dos portugueses — e que isso foi comprovado pelo DNA dos ratos que vieram na viagem. O ano 1000 é um tour-de-force e oferece muitas novas maneiras de pensar sobre o passado. FONTE: The Spectator GULLIVER, Katrina. The Year 1000: When Explorers Connected the Globe — and Globalisation Began. The Spectator. Londres, 08 de abr. de 2020. Disponível em: <https://www.spectator.co.uk/article/globalisation-is-scarcely-new-it-dates-back-to-the-year-1000>. Acesso em: 04 de abr. de 2020. (Livremente traduzido pela Livros Vikings)


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