Os Nórdicos têm relações com os muçulmanos há muito tempo.
No Museu Nacional da Dinamarca, em Copenhague, há uma reconstrução de um navio viking gigante. Ele foi construído com a estrutura de ferro e algumas tábuas antigas remanescentes do barco original.
A estrutura de ferro se estende por 37,4 metros. Fragmentos de madeira do barco original foram encontrados no porto de Roskilde, a cerca de uma hora de viagem de Copenhague, em 1997. Os arqueólogos acreditam que o grande barco remonta ao início do Século XI.
Durante sua operação, havia uma vela quadrada gigante no meio do navio. Ela era feita de lã e revestida com uma substância para torná-la à prova d'água. Cerca de 80 guerreiros vikings poderiam caber nele. Remavam incansavelmente e dormiam ao relento, sob o céu azul, nuvens e estrelas. Segundo Henrik Hoist-Anderson, um dos curadores do Museu Nacional:
Este navio era o mais avançado de sua época nesta região.
Construído com a largura ideal para ser flexível e resistir às ondas sem quebrar facilmente. Esse tipo de barco também não era muito fundo, o que o tornava ágil para manobrar na água.
Vikings e Muçulmanos
No Século IX, em 859 d.C., o príncipe sueco Bjorn Ironside partiu para o sul com um navio semelhante ao exibido no museu. Na proa do barco, havia a cabeça de uma serpente mitológica, a Jormungandr, como nos nórdicos navios de guerra pagãos da época.
Bjorn Ironside estava acompanhado de Hastein, um chefe tribal da Dinamarca conhecido por sua habilidade em combate. Eles levaram centenas de vikings, ou seja, os piratas navegadores da época. Seu objetivo era saquear Roma, na Itália. De acordo com Hoist-Anderson
Na verdade, 'viking' não é um termo étnico, mas uma atividade das pessoas na região da Escandinávia que se dedicavam a saques por mar e rio.
As tropas de Ironside e Hastein eram muito eficientes. A maioria estava armada com machados nórdicos. Apenas a nobreza e as tropas de elite usavam espadas longas.
Inicialmente, com uma força de 60 navios, eles invadiram a Europa Ocidental e seguiram para o sul. A primeira vítima foi a Francia, que hoje corresponde à região da França. Igrejas e suas riquezas foram saqueadas e pessoas foram mortas.
A partir da Normandia, os vikings seguiram para a Península Ibérica, que agora abrange a Espanha e Portugal. Uma por uma, as cidades costeiras do Mediterrâneo, que eram territórios de reinos islâmicos na época, também eram saqueadas.
Eles chegaram primeiro a Algeciras, uma região que antes era chamada de Aljazirah al-Khadra, em Andaluzia. Lá, Bjorn e Hastein, juntamente com suas tropas, incendiaram a mesquita principal, saquearam tudo o que podiam do local de culto e mataram os seus habitantes. Os vikings realizaram ações semelhantes em Mizzima, que hoje faz parte do Marrocos, no extremo norte da África.
Dos territórios ibéricos, os vikings seguiram para o Mediterrâneo, onde continuaram seus saques. As cidades costeiras da atual Itália foram as próximas vítimas. Pisa e a Sicília foram facilmente saqueadas.
Em Luna, essas tropas fingiram se converter ao cristianismo. Quando chegaram ao centro da cidade, eles abandonaram a fachada e mataram os padres e os habitantes.
A brutalidade dos vikings na Península Ibérica e no Mediterrâneo não era algo novo. Vários historiadores muçulmanos da Andaluzia, como Ahmad al Razi e Muawiyah bin Hisam Assabinasi, relataram que o primeiro ataque viking a uma cidade muçulmana ocorreu no final de Muharram, em 230 Hijri (setembro de 844).
Naquela época, eles atacaram Sevilha, ou Isbiliyyah, impiedosamente. A cidade não tinha defesas naquela e foi facilmente conquistada. Posteriormente, as tropas muçulmanas dos reinos vizinhos conseguiram expulsar os vikings, ainda em 844.
De acordo com Ahmad al Razi, a expedição de 859 foi a segunda tentativa dos vikings de saquear territórios muçulmanos. Al Razi situou esse evento em 245 Hijri. Nessa época, os saques vikings já eram uma ameaça constante enfrentada pelos territórios europeus e, às vezes, do norte da África, tanto sob reinos cristãos quanto islâmicos.
O Emir de Córdoba, Muhammad bin Abdurrahman alihat Muhammad I, estava incomodado com os saques e a violência cometidos pelos vikings. Ele então reuniu tropas e planejou estratégias para derrota-los quando retornassem de suas expedições.
O Emir Muhammad I organizou uma emboscada no Wadi al-Kabir, perto do Estreito de Gibraltar. Foram preparados navios de emboscada, equipados com uma espécie de catapultas que lançava bolas de fogo, tal qual escreveu Ahmad al Razi no livro "Akhbar muluk al-Andalus".
No caminho de volta, eles (os vikings) encontraram a frota de Muhammad, que queimou os navios dos infiéis e capturou outros dois. Suas cargas foram saqueadas. Por todas essas ações, os infiéis ficaram muito irritados e lutaram com o dobro de energia, o que resultou na morte de muitos muçulmanos. Esses navios dos majus (na época, os muçulmanos chamavam os vikings de majus porque eles eram pagãos) então seguiram em direção a Banbaluna (Pamplona).
O Museu Nacional de Copenhague dedica um programa interativo completo a esta expedição viking, com direito a um curta-metragem e exposição de artefatos relacionados.
No final da história, as bolas de fogo atingem os navios vikings e afundam muitos saqueadores. Em vez de irem para Valhalla, como uma espécie de paraíso para os guerreiros vikings mortos em batalha, eles foram recebidos por Ran, uma deusa nórdica que aprisiona aqueles que se afogam.
Missão comercial
No entanto, a relação entre vikings e muçulmanos nem sempre se resumia a guerras, como explicou Hoist-Anderson:
Apenas uma pequena parte partiu para saquear. A maioria eram agricultores. Eles também eram comerciantes que viajavam por diferentes regiões através de rios e mares.
Ele lembra também que os navios utilizados para o comércio eram diferentes dos longos navios de guerra. Eles tinham cascos mais largos para transportar uma grande quantidade de mercadorias. Geralmente, havia tendas para abrigar a tripulação e os comerciantes. Esses navios comerciais largos chegaram à América do Norte mais de mil anos atrás, muito antes de Cristóvão Colombo.
Com esses navios comerciais, os "rus", como os historiadores muçulmanos chamavam os nórdicos, navegaram até os territórios dos reinos islâmicos, incluindo o Oriente Médio e a Ásia Ocidental.
Centenas de moedas de prata, conhecidas como dirrãs, com inscrições em árabe, expostas no Museu Nacional de Copenhague, testemunham a paz estabelecida por meio do comércio. Essas moedas foram encontradas longe de onde foram cunhadas, na região de Samarcanda. Algumas foram encontradas na Escandinávia, no rio Volga e até mesmo na Inglaterra.
Nem todas as moedas estão intactas. Algumas estão quebradas em quartos para facilitar a divisão de seu valor, a exemplo do que acrescentou Hoist-Anderson:
Essas 'moedas islâmicas' foram usadas por centenas de anos durante a era viking. Somente depois que eles se converteram ao cristianismo as moedas foram substituídas [...] Devemos lembrar que a economia era um incentivo muito bom para a paz.
No final, a relação entre vikings e muçulmanos não foi diferente das demais relações entre as nações do passado. Às vezes havia conflitos e saques, entretanto, o comércio também era forte. O que quer que tenha acontecido entre eles no passado é um poderoso lembrete de que "Ocidente" e "Oriente" não são tão diferentes.
FONTE: Republika
ZAMZAMI, Fitriyan. Perang, Damai, Muslim, dan Viking. Republika. Jacarta, 15 de jun. de 2023. Disponível em: <https://www.republika.id/posts/42003/perang-damai-muslim-dan-viking>. Acesso em: 15 de jun. de 2023. (Livremente adaptado pela Livros Vikings).
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