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COMO UM SAPATO PERDIDO E ALGUMAS MOEDAS VIKINGS AJUDAM A CONTAR A HISTÓRIA DA IRLANDA

Um sapato perdido, moedas vikings e joias estão entre os itens mais fascinantes encontrados na região de Glendalough na Irlanda, os quais ajudam a contar a sua história.

Como um sapato perdido e algumas moedas vikings ajudam a contar a história da Irlanda
Fonte da Imagem: Commons/Wikipedia

Agora, o público pode ver esses itens em uma nova exposição do Museu Nacional da Irlanda de Dublin. Juntos, eles mostram aos visitantes como Glendalough se tornou o local turístico e espiritualmente reverenciado que é hoje.

Glendalough é um dos locais monásticos medievais mais conhecidos da Irlanda, e a exposição Glendalough: Power, Prayer and Pilgrimage (Glendalough: Poder, Oração e Peregrinação) apresenta 24 objetos, abrangendo um período de 1.200 anos — todos os quais estão em exibição pela primeira vez.

Os itens foram encontrados ao longo do último século e meio, alguns localizados durante escavações de antiquários e outros por membros do público. O restante foi encontrado durante as escavações arqueológicas de pesquisa conduzidas pela UCD em Glendalough, desde 1950.

Fundada por St. Kevin no final do Século VI, Glendalough é um lugar onde as pessoas buscam isolamento e cura. Os organizadores dizem que isso torna o momento da inauguração, durante a pandemia Covid-19, “particularmente pertinente”.

Glendalough pode ter sido um lugar de peregrinação, mas também foi um lugar de lutas políticas massivas — na verdade, a exposição faz comparações com Game of Thrones.

Matthew Seaver é curador da Glendalough: Power, Prayer and Pilgrimage, o guardião assistente de arqueologia do Museu Nacional da Irlanda e, no passado, trabalhou na escavação de Glendalough, liderada pela UCD.

A história através dos objetos


Crédito da Imagem: Museu Nacional da Irlanda

Cada uma das peças da exposição tem uma história para contar. Este sino de ferro revestido de bronze, retratado acima, é datado entre os Séculos VIII e IX d.C. e foi encontrado próximo de Glendalough. Recentemente, foi doado ao Museu Nacional da Irlanda pelo Arcebispo Católico Romano de Dublin e pelo Primaz da Irlanda, Diarmuid Martin, em nome da diocese.

“O sino, junto com os báculos, são os objetos cristãos primitivos mais significativos, porque simbolizam o poder dos abades e dos bispos da igreja”, explicou Matt Seaver. "Eles não são usados ​​apenas para dividir o dia e marcar os momentos de oração, bem como o trabalho, contudo também para outras coisas, como definir os limites do mosteiro".

Eles eram usados ​​para propósitos ainda mais intrigantes, disse Seaver. “Um monge percorreu Glendalough com o seu sino e entoou canções maldosas contra os demônios, os expulsando do vale. Portanto, é uma espécie de marcação territorial. Dizia-se que a extensão do mosteiro era o limite do som do sino”.

Quando este sino da foto acima foi encontrado, ele não estava completo — desde então foi conservado com uma técnica japonesa que usa papel e polpa de madeira, o que ajuda a mantê-lo inteiro e evita que se desintegre.


Crédito da Imagem: Museu Nacional da Irlanda

Outro objeto interessante é uma minúscula cruz. Pequena, mas com uma história interessante. Existem apenas três dessas cruzes na Irlanda e são muito raras, disse Seaver. Um microscópio eletrônico de varredura foi utilizado para determinar se a cruz era de Whitby.

“Tem uma pequena perfuração e marcas de corte cheias de chumbo. Ela veio de Whitby ou de York, em algum momento do Século XII, chegando a Glendalough. Ela foi encontrada em uma escavação por alguém que estava peneirando solo”, disse Siever.

A pessoa que peneirava a escavação arqueológica era um voluntário da comunidade, que estava escolhendo itens e perguntando “isso é alguma coisa?”. "Então ele disse, 'isso é alguma coisa?' E nós dissemos 'sim, com certeza!" disse Seaver quando a cruz foi encontrada. Pensa-se que esta cruz era usada por um peregrino como um sinal de devoção. É um achado raro e é exibido ao lado de um fragmento de um azulejo de pórfiro — uma pedra extraída no Mediterrâneo oriental.

O fragmento de azulejo foi recuperado durante a escavação de um dos locais mais remotos do vale de Glendalough em 1958. Pensa-se que tenha sido retirado de um edifício de Roma ou de um edifício romano da Europa e levado a Glendalough por um clérigo como uma marca de autoridade.


Crédito da Imagem: Museu Nacional da Irlanda

Este sino com corda do final do Século X / início do XI, o mais antigo da Irlanda, era usado em um campanário da Igreja de St Kevin. Acredita-se que foi importado da Inglaterra ou do noroeste da Europa.

“É um sino do Século XI. É o primeiro sino da Irlanda a ser tocado com uma corda”, disse Seaver. “É único em sua classe. Provavelmente veio da Alemanha, ou do nordeste da Inglaterra, e percorreu as vias marítimas que os monges da Irlanda usavam para ir ao continente fundar mosteiro, mostrando o alcance de Glendalough no Século XI”.


Crédito da Imagem: Museu Nacional da Irlanda

Depois, há um sapato perdido, que eles acreditam ter sido engolido por um pântano no Século X e pertencer a um peregrino. Ele foi encontrado mais de mil anos depois por um transeunte e relatado ao Museu Nacional da Irlanda.

“Ele data do Século X/XI”, disse Seaver. “É um sapato de mulher e foi descrito pelo especialista — que o examinou — como sendo bem feito e 'provavelmente de alto padrão, produzido para ser usado até a morte'. Este pode ter sido um dos únicos bons sapatos de alguém e se perdeu no pântano".

O que é particularmente notável sobre este sapato é que ele lança alguma luz sobre a vida das mulheres em Glendalough. “O importante é que há poucas referências a mulheres nos registros analísticos de Glendalough”, disse Seaver. “As mulheres não foram mencionadas, mas estavam claramente lá, e em grande número. A arqueologia pode resolver isso e olhar as coisas por outro ângulo”.


Crédito da Imagem: Museu Nacional da Irlanda

Na exposição também estão moedas de prata descobertas na década de 1980 por dois meninos; alfinetes de capa decorados e cerâmica; uma moeda Viking com um Sitric Rex; e os primeiros pôsteres de viagens ferroviárias e cerâmicas, lembrança de quando Glendalough se tornou um importante destino turístico.

Esses itens ajudam a ilustrar como os vikings foram a Glendalough por quatro vezes — a primeira vez para saquear e as outras vezes para formar alianças dinásticas (daí as referências à Game of Thrones).

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A moeda de Sitric, acima, é a primeira moeda irlandesa. “Isso indica que as pessoas comuns de Glendalough provavelmente estavam realizando transações com moedas individuais e pagando por coisas”, disse Seaver.

“Isso não parece tão estranho, mas não temos moedas dessa época no resto da Irlanda. A moeda era usada em certos locais eclesiásticos e nas cidades vikings, na verdade apenas em Dublin e ao seu redor, digamos, partes de Westmeath. Então esse é um objeto significativo e incomum de Glendalough”. Também mostra como Glendalough estava ligada a Dublin.


Crédito da Imagem: Museu Nacional da Irlanda

Finalmente, um dos itens mais peculiares em exibição, um jogo de tabuleiro chamado Merrills, desenhado acima de uma rocha plana.

“Muitas vezes esse jogo é encontrado em igrejas, logo, você pode imaginar algumas pessoas entediadas do Século XII, desenhando e jogando Merrills. Além de ser um item que mostra diversão, também demonstra que as pessoas aprendiam e se desenvolviam naquela época”, disse Seaver.

FONTE: The Journal

BARRY, Aoife. How a lost shoe and Viking coins help tell the history of Glendalough. The Journal. Dublim, 20 de set. de 2020. Disponível em: <https://www.thejournal.ie/archaeology-items-from-glendalough-history-5207333-Sep2020/>. Acesso em: 21 de set. de 2020. (Livremente traduzido pela Livros Vikings)

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