Embora sejam mais frequentemente associados aos vikings, os chifres de beber têm uma vasta história, que começou pelo menos 1.000 anos antes dos famigerados navegantes nórdicos deixarem a Escandinávia.
Quando as pessoas pensam em um chifre de beber, provavelmente imaginam os vikings celebrando e bebendo hidromel depois de um dia de pilhagem. Apesar dos nórdicos terem utilizado o “horn” — como costumamos chamar aqui no Brasil —, sua história começou pelo menos 1000 anos antes da Era Viking (793-1066 d.C.).
Ouça o episódio do Viking Cast com o Prof. Dr. Pablo Gomes de Miranda do NEVE sobre a Era Viking para entender melhor o assunto:
Conhecido na Grécia antiga como keras ou rhyton, o chifre de beber foi utilizado em inúmeras regiões ao longo dos séculos e ainda é parte importante de algumas culturas. Dos citas aos georgianos modernos, os povos que utilizavam os “horns” eram tão variados quanto as áreas em que foram encontrados.
Embora os primeiros fossem feitos com chifres de touros ou carneiros, os materiais que eram utilizados para confeccioná-los variavam muito. Até mesmo o tipo de uso era diversificado, indo desde os projetados para o dia a dia até vasos decorativos ou cerimoniais.
Índice
Dos citas aos gregos: a história do chifre de beber
Algumas das primeiras culturas a utilizarem o chifre de beber foram os trácios e os citas. Enquanto os citas viviam no que hoje é o Cazaquistão e o Sul da Sibéria, os trácios residiam nos Bálcãs modernos. Ambos começaram a usar chifres ocos de cabras, carneiros e touros para beber suas várias libações.
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Um relato do Século IV a.C. do historiador grego Xenofonte sobre Seuthes, um líder trácio, sugere que o chifre era parte integrante do modo de vida trácio. As palavras que Xenofonte usou para descrever seu uso foram “kata ton Thrakion nomon (à moda trácia)”.
Seuthes ordenou que eu entrasse com dois homens quaisquer de minha escolha. Assim, logo que entramos, primeiro nos cumprimentamos e brindamos ‘à moda trácia’ em chifres com vinho.
- Xenofonte em sua obra Anabasis.
Mais tarde, chifres de beber foram encontrados em túmulos citas que datam do Século VII a.C., muitos deles criados a partir de chifres dos extintos auroques. No Século V a.C., os guerreiros gregos passaram a serem enterrados com “horns” de metal.
Os romanos começaram a usar na mesma época a própria versão do chifre de beber, porém, em vez dos chifres de animais mais primitivos ou daqueles de metal adornados que os gregos preferiam, fizeram uma versão bonita e decorativa de vidro.
A ascensão do chifre de beber viking
Embora os vikings não fossem os únicos a usarem o “horn”, sua versão é a mais conhecida. Foi até mesmo consagrada na mitologia. De acordo com a Edda em Prosa — datada do Século XIII —, Thor, inconscientemente, bebeu de um chifre cheio com todos os mares da Terra, depois que um gigante chamado Útgarða-Loki o desafiou:
Então Thor se enfureceu, colocou o chifre na boca e bebeu com todas as suas forças, continuando enquanto pode, e quando olhou para ele (chifre), percebeu que apenas pouco de seu conteúdo havia diminuído, mas, empanzinado, devolveu o chifre e não mais quis beber.
Na manhã seguinte, Útgarða-Loki o disse:
Quando tu bebeste do chifre e pensaste que tão pouco diminuíra, pela minha verdade, foi uma grande maravilha, a qual nunca imaginei ser possível. Uma ponta do chifre estava no mar, mas tu não percebeste. Quando tu chegares à praia, descobrirás o quanto o mar encolhera com a tua sugada.
Não era incomum, que os vikings bebessem hidromel e cerveja em chifres, ainda que com menos frequência que se imagine. Além disso, esses chifres podiam ser esculpidos, decorados e transmitidos de geração em geração.
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Na mitologia nórdica os guerreiros vikings caídos que entravam no Valhalla eram recebidos por uma valquíria, que os entregavam um chifre com bebida, levando-os para festejar e lutar até a morte ao lado de Odin — apenas para ressuscitar e fazer tudo de novo no dia seguinte.
Como o acessório persistiu até hoje?
Embora tenha se originado na antiguidade, o chifre de beber não permaneceu no passado. Nos Séculos XIX e XX, “horns” luxuosos feitos de marfim, ouro e porcelana surgiram como decoração na Áustria e na Alemanha, onde estudantes universitários passaram a usar os “chifres cerimoniais” em vários rituais de bebida.
Ainda hoje, as pessoas da Geórgia (país) usam os chamados “khantsi” — um chifre de cabra ou carneiro altamente polido, decorado com argolas de prata e uma corrente — para brindar durante um banquete chamado de supra. Quem brindar com o chifre deve beber todo o seu conteúdo antes de pousá-lo.
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Com uma história tão diversa, fica claro que o chifre de beber viking é muito mais do que isso. Um item histórico, encontrado em inúmeras culturas ao redor do mundo. O inebriante recipiente ainda pode ser visto em museus, em mesas de jantar, no entretenimento (teatro, filmes, séries etc.), nos encontros de recriadores e entusiastas medievais e da era viking.
Assista a entrevista da Livros Vikings com os recriadores do Grupo Nýr Vindr sobre Viking Reenactment para aprender sobre o assunto:
FONTE: All that interesting/ati
GIACOMAZZO, B; JOHNSON, B. The Fascinating History Of The Drinking Horn, The Thirst-Quenching Vessel Of Viking Legend. ati. Nova Iorque, 21 de jul. de 2022. Disponível em: <https://allthatsinteresting.com/drinking-horn>. Acesso em: 25 de jul. de 2022. (Livremente traduzido e adaptado pela Livros Vikings)
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