A arqueóloga estoniana Marika Mägi argumenta que os finlandeses do Báltico — o povo que viveu nos territórios da Finlândia e da Estônia modernas — também foram vikings, mas este fato ainda é ignorado pelo mundo.
Este artigo foi publicado em colaboração com a Research in Estônia.
A longa cruzada de uma cientista para que o mundo veja a parte oculta da história viking. A arqueóloga da Universidade de Tallinn, Marika Mägi, há muitos anos fala sobre os marinheiros da Era Viking, mas ainda enfrenta resistência ao discutir o assunto.
Isso se deve pelo fato dela não falar sobre os nórdicos, os vikings escandinavos, mas a respeito dos que moravam um pouco a leste, ao longo das costas orientais do Mar Báltico. E muitas vezes fica desconfortável quando os outros cientistas e especialistas em vikings a ouvem, porque os força a repensar os seus conhecimentos. Se o mundo aceitasse o papel crucial da região do Báltico na comunicação viking, muitas histórias teriam que ser recontadas e muitas lacunas do conhecimento seriam preenchidas. E isso é um trabalho duro.
Quando Mägi ressalta que eles perderam uma peça do quebra-cabeça, seus ouvintes educadamente concordam e continuam ignorando a região. Por que fazer o esforço?
A região do Báltico, como sempre, é vista como um vazio entre a Escandinávia e a Rússia. Mas, isso, simplesmente não é verdade.
Os vikings não poderiam ter alcançado o território russo moderno sem passar pelas costas do Báltico. A Rússia simplesmente não tinha nenhum litoral acessível entre os Séculos IX e XI, a era de ouro viking. A pequena faixa de terra perto da Estônia e da Finlândia era pantanosa e escassamente povoada pelos finlandeses do Báltico. Geralmente, os cientistas apenas concordam com este fato.
Então, por que os russos têm um papel tão central nas histórias vikings? E se alguns desses eventos tivessem ocorrido no território moderno do Báltico?
Mägi acha que esse é o caso de algumas das sagas da Rússia — que ganharam vida na popular série "Vikings". Eventos em sagas que retratam a atividade viking oriental nos Séculos VIII e IX ocorreram em grande parte nas costas orientais do mar Báltico, concluiu Mägi, a partir de suas fontes.
Afinal, você precisa do mar para poder velejar. E os Bálticos viviam à beira-mar, não os russos. A costa da Estônia tem 3.794 quilômetros (2.400 milhas) de comprimento e sua tradição marítima tem sido forte ao longo dos séculos. O mesmo vale para as outras áreas, outrora habitadas pelos finlandeses do Báltico.
Outro exemplo: quando os arqueólogos encontram objetos de valor na Rússia, eles automaticamente presumem que são escandinavos. As armas e as joias dos guerreiros bálticos seriam indiscutivelmente do leste da Suécia ou Gotland?
Simplificando, os guerreiros costeiros, que viviam na moderna Estônia, Finlândia e Letônia, também foram vikings, e tanto as fontes arqueológicas, quanto as escritas provam isso. Mägi passou décadas colecionando-as.
Ela escreveu um livro sobre isso. Dez anos e 512 páginas depois, “In Austrvegr: O Papel do Báltico Oriental na Comunicação da Era Viking através do Mar Báltico”, que foi publicado pela editora holandesa Brill.
A editora de aquisições da Brill para Estudos Medievais e Histórias de Guerra, Kate Hammond, apontou que em dois anos dezenas de bibliotecas acadêmicas em todo o mundo encomendaram o livro de Marika Mägi. A obra pode ser encontrada em bibliotecas de Oxford a Stanford e de Malta à Austrália. O livro foi até encomendado na Nigéria e em cidades como Paris, Berlim, Berkeley e Nova York. A lista é longa.
O "Báltico" também não é realmente o Báltico
É preciso entender no que consiste o Báltico quando se fala dos vikings do Báltico. Existem muitos conceitos errados sobre esta área.
Mägi refere-se ao Finnico Báltico como as pessoas que viviam nos territórios da Finlândia moderna e da Estônia, bem como na parte noroeste da Rússia e uma grande parte da Letônia. Os povos “bálticos”, por outro lado, são etnias bálticas, cujos habitantes foram que hoje é a Letônia e a Lituânia.
Para Mägi, os vikings não são uma etnia. Referem-se mais como uma profissão ou uma atividade, em que alguém ia a uma cruzada como um viking. Como são os soldados de hoje em dia.
Mägi compara os vikings com os cavaleiros que, apesar da localização, compartilhavam os mesmos valores e código de ética. Não havia diferença entre os cavaleiros italianos e os alemães. A etnia não teve um papel tão importante quanto o status social do guerreiro.
A influência viking atingiu a costa finlandesa do Báltico por volta do Século VIII. Os guerreiros bálticos se adaptaram à cultura escandinava até o ponto em que era quase impossível distingui-los: joias, armas, navios, assentamentos, portos ...
Os estonianos da Era Viking não tinham a tradição de enterrar os mortos com artefatos, o que faz parecer que não havia muita coisa acontecendo, mesmo que houvesse muitas outras descobertas.
"Você não pode presumir que todas as coisas encontradas na Estônia pertencem a estrangeiros", disse Mägi. "Houve uma mistura cultural".
Então, por que ignorar a Estônia?
Com todas as evidências, por que tantos arqueólogos, cineastas, escritores e outros fãs da Era Viking deslizam sobre a região báltico-finnica?
Mägi acha que é porque os estonianos perderam o momento. Os vikings se tornaram populares na onda de avaliações nacionais em todo o norte da Europa no final do Século XIX. Os escandinavos começaram a ver os piratas como seus ancestrais heroicos. Muitos livros e peças de teatro foram escritos sobre eles.
Somente após a libertação da União Soviética, os estonianos começaram a falar de suas descobertas sobre o assunto. Isso foi um pouco tarde. Até então, o mundo já havia traçado uma equação entre escandinavos e vikings. A história já estava sendo contada, as lembranças com chifres vendidas e camisetas impressas nas capitais escandinavas. Enquanto isso, estonianos e letões estavam trabalhando duro para reconstruir seus países e identidades.
Ao mesmo tempo, não é útil que os estudos e livros históricos do Báltico sejam frequentemente publicados nos idiomas locais, sendo difíceis para os cientistas estrangeiros seguirem ou encontrarem.
Por que tudo isso importa?
O livro de Mägi lhe rendeu dois dos maiores prêmios de um arqueólogo estoniano: o Prêmio Estatal Estoniano de Pesquisa no campo das humanidades e o Prêmio Anual da Associação de Estudos Eslavos.
"É sem dúvida um evento importante para a arqueologia da Estônia", afirmou Valter Lang, chefe do departamento de Arqueologia e História da Universidade de Tartu. "As pequenas regiões geralmente são negligenciadas, devido ao equívoco de que não há muita coisa acontecendo por lá".
O livro de Mägi tornou fácil para os interessados na Era Viking darem uma olhada no que aconteceu na região do Báltico. A história completa está entre essas capas. "Com base no que temos agora, acho que esgotei todas as fontes para mim", disse ela.
É extremamente difícil para um país pequeno se fazer ouvir, mesmo que a maioria dos países do mundo seja pequena.
Entretanto, poucas pessoas se esforçariam tanto quanto Marika Mägi para se fazer ouvir e contar a história de sua pequena pátria.
FONTE: Estonia World
MÄNNI, Marian. The Baltic Finns were Vikings too, but the world ignores it. Stonia World. Talín, 12 de jul. de 2020. Disponível em: <https://estonianworld.com/knowledge/the-baltic-finns-were-vikings-too-but-the-world-ignores-it/>. Acesso em: 13 de jul. de 2020. (Livremente traduzido pela Livros Vikings)
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