Escrito na década de 1380 na Islândia, o Flateyarbók narra a história da Noruega, mas nunca havia chegado ao país. Após pouco mais de 600 anos, finalmente um rei norueguês recebeu o livro, e em seu idioma. Uma tradução para o inglês também está sendo feita.
A Era Viking e a Alta Idade Média foram o auge da Noruega medieval — até que um declínio dramático causado pela Peste Negra, em meados dos anos 1300, acabou com tudo.
No final da década de 1380, os escritos de Flateyarbók foram completados na Islândia.
Talvez este livro de história norueguesa tenha sido uma tentativa de um rico fazendeiro islandês de dar ao jovem Rei Olav IV conhecimento e confiança para a reconstrução do poderoso Reino da Noruega. O Antigo Reino da Noruega se estendia das Ilhas Órcades (Escócia), passava pelas Ilhas Faroé, pela Islândia e culminava na Groenlândia.
O jovem rei aprenderia muito com este livro, pois além de bastante paixão, lutas e batalhas marítimas, poderia ler e memorizar bons discursos oriundos de seus ancestrais.
Três vezes mais que o trabalho de Snorre
Os escritos históricos do Flateyarbók abrangem o período desde Harald Fairhair, o primeiro rei da Noruega, ou seja, do início dos anos 900, até quase a Peste Negra atingir a Noruega, por volta do ano 1350.
Mas o rei Olav IV ou Olav Haakonsson, de 17 anos, nunca recebeu o livro. O garoto morreu de uma maneira misteriosa.
Agora, todo o livro finalmente foi traduzido e publicado em norueguês por uma pequena editora em Stavanger.
Flateyjarbók (seu nome islandês) é três vezes mais extenso que a Heimskringla, a coleção de sagas de Snorre Sturlason sobre os reis suecos e noruegueses,
Hoje, o belo manuscrito original está armazenado em Reykjavik, na Islândia. Nenhuma das 225 folhas de pele de bezerro bem preservadas (pergaminho) está faltando. Tudo ainda está legível.
O manuscrito tem sido controverso
Torgrim Titlestad, professor de história da Universidade de Stavanger, tem sido importante na publicação dos sete volumes noruegueses do manuscrito de Flateyarbók.
Tanto Snorre quanto Flateyarbók são fontes da história norueguesa que geram controversas entre os historiadores. Mas Titlestad se destacou como porta-voz por considerar as sagas como fontes credíveis da história da Noruega na Era Viking e na Alta Idade Média.
"Flateyarbók é a primeira história completa da Noruega deste período", disse Titlestad à NRK, a Norwegian Broadcasting Corporation.
Titlestad acredita que devemos levar o manuscrito de Flateyarbók a sério. Mas é claro que o professor também está aberto a questionar a credibilidade de partes do conteúdo de Flateyarbók, como também deve ser feito com as sagas de Snorre. Ambos os livros foram escritos bem depois — até várias centenas de anos — dos eventos terem ocorrido.
"Este livro pode não ser a versão mais precisa da história da Noruega", diz Titlestad.
Mas, ele ressalta, que as pessoas as quais escreveram o livro em um mosteiro no norte da Islândia, há cerca de 600 anos, tiveram acesso a muitos conhecimentos básicos sobre a história da Noruega.
Viemos de Odin ou Nór?
Heimskringla de Snorre e o Flateyarbók, têm inúmeras diferenças.
Em Snorre, lemos que os noruegueses e seus deuses provavelmente se originaram na Ásia, com o deus pagão Odin.
Flateyarbók, por outro lado, nos diz que o progenitor dos noruegueses é Nór, quem vem do norte gelado.
A parte principal do livro foi escrita pelos dois padres Jon Tordsson e Magnus Torhallsson na década de 1380. Eles expandiram os escritos existentes de várias épocas.
O fazendeiro padroeiro do norte da Islândia que contratou os dois escribas para empreender o projeto foi Jon Håkonsson. Ele era um homem que, como muitos islandeses, poderia ter considerado o rei da Noruega como um líder unificador de todos os que se considerassem parte do grande reino norueguês.
Nunca veio para a Noruega
Talvez o plano de Håkonsson fosse que o livro ajudasse o novo rei norueguês a tirar a Islândia e a Noruega da represa onde haviam terminado depois da Peste Negra.
Ou, possivelmente, o rico fazendeiro do norte da Islândia pensava que as histórias de poderosos reis noruegueses do passado e seus súditos dariam ao novo monarca norueguês poder político e ideológico para avançar com o reino novamente e reconstruir o Reino da Noruega.
Mas quando Olav morreu repentinamente com apenas 17 anos, o destinatário pretendido do presente da Islândia se foi. Em vez disso, a Noruega se une com a Dinamarca.
O Flateyarbók nunca é enviado para a Noruega.
Em vez disso, foi armazenado em Flatey, uma ilha na costa oeste da Islândia. Então o belo livro foi pego sob coação no Século XVII e levado ao Museu Real de Copenhague.
A partir daí, finalmente retornou à Islândia em 1971, depois de muito baque e barulho pelos dinamarqueses
20 000 cópias até agora
A conclusão da edição norueguesa de Flateyarbók levou um total de 8 anos e custou NOK 15 milhões (cerca de R$ 6,88 milhões).
O lançamento dos dois últimos volumes completa o maior projeto de disseminação de sagas da Noruega nos tempos modernos.
O projeto envolveu muitos — desde Althing (parlamento) da Islândia até a rainha da Dinamarca e Lagting (parlamento) das Ilhas Faroé — sob os auspícios da pequena editora norueguesa Saga Bok e de suas fundações e instituições privadas.
Até agora, a Flateyarbók vendeu um total de 20.000 cópias desde que o primeiro volume foi lançado em 2014.
A editora está agora traduzindo o Flateyarbók para o inglês. O livro também está sendo usado em uma apresentação de realidade virtual na Viking House em Stavanger, que foi aberta no início deste ano. Vários outros projetos estão planejados.
FONTE: Sciencenorway
AMUNDSEN, Bård. Why is the full story of the Viking Age and High Middle Ages emerging only now? Sciencenorway. Oslo, 25 de dez. de 2019. Disponível em: <https://sciencenorway.no/books-history-viking-age/why-is-the-full-story-of-the-viking-age-and-high-middle-ages-emerging-only-now/1613243>. Acesso em: 28 de dez. de 2019. (Livremente traduzido pela Livros Vikings).
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