No outono de 2020, o professor da Universidade de Estocolmo, Jens Moesgaard, foi contatado pela unidade de arqueologia de campo dos Museus Históricos Nacionais Suecos, também conhecidos como Archaeologists. Eles escavavam um assentamento da Era Viking em Viggbyholm, ao norte de Estocolmo. Durante a detecção rotineira de metais do local, eles localizaram um achado muito emocionante: oito colares e outras joias de prata junto com 12 moedas, tudo delicadamente embrulhado em um pano e depositado em um pote. Em outras palavras, um verdadeiro tesouro de prata viking.
Moesgaard é professor de numismática — estudo de moedas — e passou a vida se especializando em moedas, portanto foi chamado para ajudar os arqueólogos a aprenderem mais sobre essa descoberta, que acabou sendo um achado muito interessante. A maioria das moedas eram do tipo que geralmente se vê na Suécia: inglesas, bávaras, boêmias (tchecas) e islâmicas, bem como as imitações das islâmicas. Entretanto, uma das moedas era incomum.
Uma moeda viking rara da Normandia
Dentro desse tesouro foi encontrada uma moeda normanda do final do Século X. É apenas a segunda encontrada na Suécia. Essas moedas são raramente encontradas no resto da Escandinávia. Isso é surpreendente, porque o Ducado da Normandia foi criado quando o Rei Carlos, o Simples, da Francia Ocidental (França moderna) deu um pedaço de terra ao chefe viking Rolf (ou Rollo) em 911.
Você esperaria que essa afiliação levasse a um influxo de moedas normandas para a Escandinávia, mas claramente não foi o caso. Talvez a razão seja que os vikings recém-assentados aprenderam com os seus vizinhos francos a misturar cobre com moedas de prata. E seus primos escandinavos estavam interessados apenas em moedas de de alta qualidade, como as inglesas, as alemãs e as islâmicas.
Mas essa não é a única característica interessante da moeda normanda recém-descoberta. Acabou sendo de um tipo que não era visto desde o Século XVIII. Vários estudiosos duvidaram da própria existência desse tipo de moeda, argumentando que o registro do Século XVIII era uma leitura equivocada. Ainda assim, a descoberta de Viggbyholm provou que eles estavam errados. O tipo existe. Portanto, esta descoberta sueca contribui para o nosso conhecimento da história francesa.
Moedas vikings na Suécia
No momento, Jens trabalha em estreita colaboração com os arqueólogos para interpretar o tesouro. A moeda mostra que ela deve ser datada dos últimos anos do Século X. Todas as moedas foram transformadas em joias, montadas como pingentes. O tesouro foi cuidadosamente depositado dentro de uma casa. Isso mostra que o tesouro de Viggbyholm pertence a uma categoria que era depositada por razões especiais, talvez um ritual do qual não sabemos os detalhes.
Na verdade, o tesouro médio dos vikings suecos era bem diferente
O Viggbyholm consiste em uma mistura de moedas e outros artefatos de prata, sendo as moedas de várias origens. Porém, ao contrário dele, a quantidade de itens costumava ser de centenas ou mesmo de milhares. Além do mais, moedas, joias e lingotes de prata costumavam ser cortados em pedaços. Eles eram dobrados e bicados com facas para verificar sua consistência — uma boa prata é macia. Isso ocorria, pois os vikings não usavam moedas como moedas, eles as usavam como barras de prata com base em seu peso.
A maioria das moedas era do exterior. Quando essas deixavam a sua terra natal, fosse da Inglaterra, Alemanha, Oriente Médio ou da Ásia Central, seu valor fixo efetivamente não estava mais garantido. Na Suécia, eles eram apenas pedaços de prata junto com outros artefatos. É por isso que os vikings aceitavam todos os tipos de moedas, independentemente da sua origem e idade — desde que fossem de boa qualidade.
Como resultado, as ferramentas obrigatórias dos comerciantes vikings eram balanças dobráveis e pesos que podiam ser transportados em longas viagens. Esses itens são frequentemente encontrados em escavações arqueológicas, testemunhando os hábitos de comércio dos nórdicos de outrora. Ao contrário da crença popular, os vikings não eram apenas invasores sedentos por sangue.
Essas descobertas de prata da Era Viking sueca são parte de uma série que ajudaram a criar uma imagem mais ampla da Grã-Bretanha Viking, Irlanda, Atlântico Norte, Escandinávia, Báltico, Rússia, Bielo-Rússia e Ucrânia. Quase 900.000 moedas de prata estão registradas nessas áreas, além de outros artefatos também de prata. A Rússia, a Polônia e a Suécia têm o maior número de achados, com cerca de 250.000 moedas cada.
Dois terços das descobertas suecas são da Ilha de Gotland, no Báltico, tornando-a o local com a maior densidade de descobertas medievais de prata do mundo. Graças a uma tradição antiquária que remonta ao Século XVII. Os achados suecos são excepcionalmente bem documentados.
“Fontes escritas desse período são raras, portanto, os achados de prata são extremamente importantes à nossa compreensão da história viking. E, como demonstra a descoberta de Viggbyholm, novos achados aparecem e aumentam nossa compreensão em constante mudança da sociedade do passado. É isso que torna a arqueologia tão interessante de se trabalhar”, afirmou Moesgaard.
FONTE: The Conversation
MOESGAARD, Jens. Swedish Viking hoard: how the discovery of single Norman coin expands our knowledge of French history. The Conversation. Boston, 12 de mar. de 2021. Disponível em: <https://theconversation.com/swedish-viking-hoard-how-the-discovery-of-single-norman-coin-expands-our-knowledge-of-french-history-156724>. Acesso em: 12 de mar. de 2021. (Livremente traduzido pela Livros Vikings)
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