Alfredo, o Grande (Alfred the Great), venceu uma batalha dada como perdida logo no início de seu reinado, emergindo dos pântanos de Somerets, onde se escondia, para salvar Wessex do domínio Viking. Jem Roberts explorou como Alfredo se tornou rei contra todas as probabilidades, além de sua vitória em Edington.
Todas as figuras heroicas precisam ter adversidades para superar — e há uma razão para que o rei saxão Alfredo seja o único governante inglês a ser popularmente conhecido como "o Grande". Entretanto, a única coisa em que a maioria dos ingleses pensam quando o nome dele é mencionado; é se ele realmente queimou os bolos. Verdade ou não, esse foi o período de maior luta de Alfredo — venceu uma batalha escondido nos pântanos de Somerset, sem qualquer esperança de vitória, contra os dinamarqueses usurpadores.
Vencer o desespero e forjar algum tipo de paz com os vikings, certamente foi a maior conquista de Alfredo. Mas, houve um golpe de mestre ainda maior durante o seu reinado, a principal razão pela qual os ingleses ainda comemoram os seus sucessos mais de 1.100 anos depois. Ele foi o primeiro dos governantes ingleses a encomendar a sua própria biografia, escrita ainda durante a sua vida pelo bispo galês Asser. Entender o valor da boa propaganda foi apenas uma das muitas ações inteligentes de Alfredo em seus tumultuados 28 anos liderando Wessex.
Quando Alfredo se tornou rei?
Há muito celebrado como um rei que governava com o cérebro ao invés do sangue, o próprio nome de Alfredo significa "elfo sábio". A importância da educação e a honra das batalhas, impressionaram-no muito cedo, quando seu pai Æthelwulf em 853 peregrinou a Roma e o levou, quando ele ainda tinha quatro anos.
Alfredo levou a igreja romana como exemplo, e doravante, buscou uma forma de governar mais civilizada, firmemente construída na piedade cristã, pelo resto de sua vida. Nenhum cronista, no entanto, afirma que Alfredo foi construído para a guerra, e sua vida foi atormentada por doenças decorrentes de distúrbios intestinais excruciantes, conhecidos como a doença de Crohn.
Para evitar uma guerra civil, Æthelwulf teve o seu trabalho interrompido ao retornar à Grã-Bretanha, quando seu filho mais velho Æthelbald se recusou a desistir de sua regência. Entretanto, pai e filho morreram alguns anos depois, com Wessex passando para o próximo irmão da fila, Æthelbehrt. Cinco anos depois, em 865, sua morte deu ao irmão mais próximo de Alfredo, Æthelred, a coroa, isso no mesmo ano em que os vikings chegaram, liderados pelo aterrorizante Ivar, o Desossado.
Nos cinco anos seguintes, os invasores dinamarqueses se apossaram dos reinos mais ao norte, incluindo a Northumbria e Anglia Oriental, e no início de 871 — ‘o ano das nove batalhas’ — Æthelred foi humilhante derrotado pelos vikings em Reading. Com o rei doente e mais ataques contra Wessex ocorrendo, apenas quatro dias depois da Batalha de Ashdown, em Berkshire, Alfredo, então com 22 anos, teve que ser liderar.
Embora nunca tenha sido um senhor da guerra nos moldes de seus adversários pagãos, o celebre príncipe teria andado em uma pedra perfurada sarsen (uma grande pedra, usada em Stonehenge), conhecida como 'Pedra de Sopro', e a usado para convocar pessoas a quilômetros, a fim de defender suas terras contra os invasores. O sucesso da batalha que se seguiu, no entanto, durou pouco e outras batalhas ocorreram antes do final do mês. Na Páscoa, Æthelred estava morto e Alfredo havia herdado o suposto reino de Wessex.
Por que a batalha de Edington foi importante?
Mesmo enquanto Alfredo organizava o funeral de seu irmão, os dinamarqueses continuaram realizando ataques a Wessex e, em maio, ele foi forçado a pagar ao Grande Exército Pagão para se retirar à Londres Merciana. A paz, no entanto, foi breve. Os dinamarqueses, sob o comando de seu novo líder, Guthrum, logo seriam encontrados saqueando Dorset, quebrando um juramento de paz feito em nome de Thor, antes de se retirarem com os seus despojos para Exeter.
Apesar de estarem de guarda, as forças inglesas foram pegas de surpresa em 878. Chippenham era a corte real e a casa de Alfredo. O rei piedoso estava comemorando a décima segunda noite do Yule, quando as forças de Guthrum atacaram, destruindo desesperadamente tudo o que encontravam, apesar de muitas de suas forças estarem afastadas por conta do período comemoração. Alfredo que era casado há dez anos com uma nobre merciana, Ealhswith, e já tinha pelo menos dois filhos, incluindo o futuro rei Edward, o Velho, de quatro anos de idade, foram poupados do açougue dinamarquês. Alfredo, no entanto, com poucos sobreviventes, teve que fugir e planejar a sua vingança.
O ano de 878 é visto como o ponto mais baixo da Inglaterra saxônica, com os dinamarqueses governando todos os reinos. Alfredo criou um forte no centro de Somerset Isle of Athelney, 100 quilômetros a sudoeste de Chippenham e planejou sua revanche. Sua antiga estratégia de comprar os dinamarqueses não era mais uma opção. Apenas a vitória em batalha seria o suficiente.
No início de maio, Alfredo montou na pedra de Egberto e pagou uma taxa para reunir as forças restantes de Somerset, Wiltshire e Hampshire, as quais ainda eram leais a ele e criou uma força que poderia vencer os homens de Guthrum em batalha. Neste sentido, onde hoje é a vila de Edington, em Wiltshire, uma sangrenta batalha teve início, como Asser mais tarde relataria: “Lutando ferozmente, formando um denso muro de escudos contra todo o exército de pagãos, e lutando longa e bravamente… finalmente conseguiu vencer. Ele derrubou os pagãos com grande matança e, ferindo os fugitivos, perseguiu-os até sua fortaleza. Diz-se que o cavalo branco em Westbury comemora isso, a maior vitória de Alfredo.
Guthrum fugiu à sua própria fortaleza, a qual teve todas as provisões roubadas pelas frotas inglesas. Depois de aguentar por duas semanas, o líder viking se submeteu ao Alfredo, e o Tratado de Wedmore foi acordado. A exigência principal era que Guthrum fosse batizado na Igreja Cristã, adotando o nome Æthelstan e aceitando Alfredo como o seu pai adotivo. Isso também marcou o estabelecimento da Danelaw, uma divisão formal da Inglaterra, onde o recém-batizado Æthelstan viveria alegremente até a sua morte na Anglia Oriental 12 anos depois.
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Alfredo em tempos de paz
Alfred estava finalmente livre para reconstruir as cidades destruídas de Wessex e tentar forjar o tipo de reino que uma sociedade cristã exigia. Londres foi cuidadosamente redesenhada, com algumas ruas que se mantêm até hoje. O rei também emitiu seu próprio código de lei com 120 capítulos, parcialmente ditados por ele e, baseado em decretos legais saxões anteriores. Ou, pelo menos, como ele admitiu, "aqueles que me agradaram — e muitos dos que não me agradaram, rejeitei com o conselho de meus conselheiros e ordenei que fossem observados de maneira diferente".
Dizia-se que Alfredo sempre carregava um caderno de anotações, onde eles escrevia orações e observações que fossem úteis. O documento legal resultante foi em grande parte a meditação de Alfredo sobre a lei cristã, com traduções bíblicas estendidas. A educação era vista como o ponto central da visão de Alfredo para uma Inglaterra melhor, com escolas judiciais estabelecidas e o ensino do idioma inglês. Com isso, por exemplo, pela primeira vez, os juízes foram obrigados a se instruir antes de serem autorizados a ocupar o cargo — mesmo se a lei fundamental que sublinhava toda a coleção díspar de regras fosse o antigo requisito saxão, essa lealdade ao Senhor (Alfredo, não a Jesus) permaneceu primordial.
Seria errado descrever o final do Século IX como um tempo de paz e reconstrução — e ironicamente, foi a morte de seu antigo inimigo, Guthrum, que causou o problema, ao criar um vácuo de poder, no qual todos os exércitos vikings desejavam estar. As incursões regulares dos invasores exigiam muito dos inglês, contudo, quando vitoriosos, faziam seus inimigos entregarem suas armas e tecnologia, incluindo o design de uma nova frota de barcos com o dobro do tamanho dos dinamarqueses, talvez o passo inicial em direção ao domínio naval que Inglaterra viria a ter no futuro. Esse aumento de força não foi apenas para defesa, mas para ataques e para encher os cofres reais.
Tão perto do alvorecer de um novo século e com apenas 50 anos, o Rei Alfredo morreu de causas desconhecidas em 26 de outubro de 899, sucedido por seu filho Eduardo, que por sua vez governou por 25 anos, sem permitir que a base de poder de Alfredo retornasse aos inimigos. De fato, seria seu filho, outro Æthelstan, quem primeiro conseguiu reunir todos os reinos saxões e se tornar verdadeiramente o primeiro rei da Inglaterra.
Em um sinal da política inglesa dos próximos séculos, muito em breve os reis ingleses estavam invadindo a Escócia e se tornando os senhores de toda a Grã-Bretanha. Quanto ao próprio Alfredo, não resta mais dele do que do Rei Arthur — ele foi enterrado com majestade em Winchester, antes de ser transferido para Hyde Abbey nos arredores da cidade em 1110. Os túmulos de Alfredo e sua família conseguiram sobreviver à Reforma de Henrique VIII, mas foram perdidos na construção de uma prisão no local durante a década de 1780. Hoje, estão em andamento, tentativas para encontrar algum pedaço remanescente dos restos do corpo de Alfredo, no estilo Ricardo III, mas as esperanças são baixas de qualquer identificação significativa.
Contudo, ao contrário de muitos de seus contemporâneos e de seus descendentes, os restos de Alfredo têm pouca necessidade de análise de DNA — à medida que a nação inglesa cresceu em força e poder internacional, o herói saxão ganhou reputação, ganhando a alcunha de ‘o Grande’ no Século XVI. Embora sua história seja emocionante, poderia ter sido uma história tão sombria quanto a de qualquer outro governante do primeiro milênio, se ele não mantivesse sua firme fé no poder da palavra escrita, em especial do idioma inglês.
O bispo Asser foi a pessoa que deu a Alfredo a imortalidade verdadeira e permitiu que suas palavras permanecessem conosco, 1.117 anos após sua morte: “Eu desejei viver dignamente e partir somente depois que a minha vida servisse de boas memórias aos homens que viesse depois de mim”.
Alfredo, o Grande, queimou os bolos?
Enquanto Alfredo encomendava a sua própria biografia, todo esse trabalho árduo poderia ser facilmente desfeito por um escritor imaginativo que desejasse acrescentar umalenda. Muitas pessoas que ouvem o nome de Alfredo, o Grande, passam automaticamente para a história dele queimando os bolos, e ainda assim a história não havia sido registrada até o Século XII (junto com a história de quando o rei invadiu o campo dinamarquês disfarçado de menestrel).
Dito isto, um evento perfeitamente plausível como esse pode nos dizer muito sobre a realeza. Pode ter sido um evento real, que sobreviveu localmente através da narrativa.
A história é, que após os sucessos dinamarqueses de 878, quando Alfredo ainda lutava para sobreviver nos pântanos em torno de Athelney, no centro de Somerset, ele foi levado por uma camponesa caridosa, quem lhe ofereceu abrigo desde que, enquanto ela saísse em busca de madeira, ele ficasse de olho nos 'bolos' (na verdade, uma espécie de pão simples), que estavam assando.
Ele concordou ansiosamente, mas quando sua anfitriã se foi, Alfredo ficou tão absorvido em pensar sobre como se voltar contra os vikings e restaurar o seu governo, que os bolos queimaram. Quando a velha voltou; ela o forçou, abusando de sua tolice, a se retirar. Embora esse episódio tenha dito muito sobre a fragilidade da realeza, a experiência nunca prejudicou Alfredo e sua vitória iminente.
FONTE: History Extra
ROBERTS, Jem. Alfred the Great and Edington: how the King of Wessex became great. History Extra. Londres, 06 de mai. de 2020. Disponível em: <https://www.historyextra.com/period/anglo-saxon/king-alfred-why-great-battle-edington-somerset-marshes-burn-cakes/>. Acesso em> 06 de mai. de 2020. (Livremente traduzido pela Livros Vikings)
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